Olá, meu amor.
Na semana passada fomos jantar fora. Não só nós os dois (I wish!), mas grande parte das pessoas envolvidas no nosso projecto - cerca de 120, estimo eu.
Acabámos por comer em mesas separadas, tal era a confusão de gente a correr para ocupar mesas e atacar o bufete.
Quando acabámos de comer, fui com uma das nossas amigas lá fora (ela bem diz que vai deixar de fumar, mas...) e, convenha-se, estava um frio desgraçado. Aquele frio que se sente entranhar na roupa e, um minuto mais tarde, entranhar nos ossos. Ficámos então muito encostadinhas à parede que, por coincidëncia, era de vidro e dava para ver tudo lá para dentro (e vice-versa).
Ambas virámos a cabeça quando ouvimos bater no vidro; eras tu, no lado de dentro, a meteres-te connosco. Primeiro mostraste-nos o terceiro dedo, com um sorriso que me fez acreditar que, quando eras adolescente, era assim que agias quando querias ser 'maroto'. Depois, quando eu reagi como reagiria qualquer adulto a tal gesto (fingi-me chocada, mas sempre a sorrir, como não podia deixar de ser), fizeste uma cara de arrependido, também sempre a sorrir - estavas a achar piada à conversa silenciosa que estávamos a ter. Como que para te redimires do gesto que tinhas feito antes, fizeste um outro - uniste ambos os polegares e ambos os indicadores e, just like that, mostravas-me um coração e um sorriso que me arrepiou dos pés à cabeça. Foi a conversa silenciosa mais infantil que já tive. A mais satisfatória, também.
Voltámos para dentro e, depois de ambas pedirmos um chocolate quente com Baileys (quem nunca experimentou devia experimentar; para dias quentes é uma maravilha!), sentámo-nos na tua mesa.
A mesa era enorme em comprimento (uns 3 ou 4 metros, penso eu) e tinha um daqueles bancos corridos de cada lado. Tu estavas do lado de lá, de costas para a janela, e eu sentei-me no banco lado de cá, que era mais acessível. Estava no entanto virada com as pernas para fora, a falar com uma colega, quando sinto algo a tocar-me na coxa. Claro que me assustei, porque o que quer que me estivesse a tocar estava debaixo da mesa e tinha pëlo preto - deduzi que fosse uma ratazana ou algo do género.
Eras tu, afinal. Vieste por baixo da mesa porque o resto do teu banco estava cheio de gente e querias sentar-te perto de mim, 'porque há tanto tempo que não conversamos', disseste.
E assim, a bebericar as nossas bebidas, ficámos a falar durante horas. Contámos novidades, falámos do que temos feito com os nossos projectos. Combinámos criar uma "one-song-band", para tocarmos no dia em que finalizarmos o projecto. Ofereceste-te para me ensinares acordes novos na guitarra. Ofereceste-te para me ensinares piano. Prometeste que nos vamos juntar todos, o nosso 'grupo', que também era teu antes de só teres tempo para ela, para matarmos saudades e fazermos uma "jam session".
Falei-te do quanto sentimos a tua falta. Pediste desculpa e prometeste que vais voltar a estar mais presente nas nossas vidas. Mas não é a primeira vez que me fazes esta promessa e, desta vez, não vou voltar a ficar iludida, só para depois me desiludir.
Passado um bocado, ela fez-te um sinal com os olhos. Puseste o cachecol, vestiste o casaco. Abraçaste-me como há muito não me abraçavas. "Let's get together one of these days. I mean it. I miss you", disseste. E, com ela agarrada ao teu braço, despediram-se do resto das pessoas e foram-se embora.
Amo-te.